terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Carta Pedagógica


 “Não estamos perdidos. Pelo contrario, venceremos se não tivermos desaprendido a aprender”

Rosa Luxemburgo.



Saudação revolucionaria aos irmãos e irmãs que lutam pela criação de um Ethos Brasileiro/Amazônico pautado pela soberania da população, através da construção do Projeto popular.

Em um antigo artigo da Revista Vida Pastoral, editado em julho de 1994, O que é preciso para ser cidadão? Pe. Juvenal Arduine problematiza a construção histórica da cidadania com a seguinte reflexão: Para ser cidadão não basta ter certidão de nascimento, não basta votar, pagar tributos, obedecer a leis. Cidadania é compromisso histórico. É participação nas decisões e ações da sociedade. Cidadania é pluridimensional. É, ao mesmo tempo, participação politica, econômica, social, psíquica, cultural e ética. Assim, pautados por esta reflexão queremos nesta 2ª carta pedagógica de inicio partilhar um pouco do contexto politico, econômico e social do Estado do Amazonas.

Observando a construção da identidade Amazonense temos a plena consciência de que toda vez que a participação popular esteve organizada as oligarquias reagiram impedindo seu avanço. Sabemos que no decorrer de décadas que se criou uma distancia entre o povo amazonense e as elites que estão no poder. Os governos do Estado e dos Municípios administram as Politicas Sociais como se fossem “coisas” de sua casa particular, pior ainda é quando tal casa particular é empenhorada em nome de seus moradores sem que haja consulta. O que reflete uma cultura de gestão não compartilhada e de mandonismo.

Nosso estado apresenta graves problemas sociais, nas mais diversas áreas da vida e do cotidiano da população. Entre eles se destaca a corrupção politica, a privatização dos serviços públicos, a violação dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras do Polo Industrial e das frentes de trabalhos das grandes construtoras de obras, o trafico de mulheres, crianças, adolescentes e jovens, a crescente violação dos direitos humanos do seguimento LGBT. Também é uma região com um alto índice de violação dos direitos humanos das mulheres, situação que se acelera a cada dia com crianças exploradas sexualmente, violência domestica e familiar, trafico de meninas e mulheres, desemprego, racismo, preconceito ético, ameaças e homicídios. E assim as mulheres do Amazonas vão sobrevivendo quando não morrem pelas mãos dos seus maridos ou companheiros.

Somos uma cultura politica de subserviência, demonstrada de maneira mais clara no clientelismo empreendido por grupos políticos com o propósito de manutenção do poder político, pautada, sobretudo numa dependência partidária e politica dos prefeitos que apresentam fragilidade, ineficiência e má administração dos bens públicos. Imperando nesse arcabouço a corrupção dos poderes Executivos e Legislativos Municipais. Que segundo o TCE apresentam prestação de contas retalhadas, o que dão margem a desvio de recurso publico, particularmente com verbas voltadas para a área da educação, como é a verba da merenda escolar.

As violações dos direitos são maquiadas pela grande propaganda sobre o crescimento econômico do estado, no entanto por aqui se tem uma das cestas básicas com o valor mais alto do País. O crescimento econômico advindo do Polo Industrial de Manaus não está acompanhado de ganhos reais para os trabalhadores e trabalhadoras, seja no que se refere ao ganho salarial, seja no atendimento de serviços públicos básicos. O poder aquisitivo da classe trabalhadora aparentemente está abaixo daquilo que é suficiente para atender as demandas básicas de vida digna, o poder público não proporciona um serviço público de qualidade que atenda as demandas sociais da população.

Assim é que diante de uma orfandade social, politica e econômica do povo amazonense, abandonado pelos políticos, espoliado pela economia, escorraçado pelos detentores do poder, minados pela angustia, que a RECID AM se desafia a realizar o proposito e, sobretudo a missão da gestão compartilhada como processo de alternância e ruptura as matizes da cultura do mandonismo instalada na consciência e principalmente no inconsciente, que influencia mentalidades, julgamentos e valores. Por isto o cuidado que temos no gerir o dinheiro publico de maneira compartilhada e transparente numa condição de aprendizes, mas reaprendendo sempre a cada atividade realizada.

O NOSSO FAZER NA GESTÃO COMPARTILHADA (COMO ACONTECE A GESTÃO COMPARTILHADA NO ESTADO)

Estamos a caminhar pelas comunidades urbanas e ribeirinhas, e rumamos nosso jeito de ser a luz da realidade das populações, grupos e movimentos, do aprofundamento teórico e da aplicação do conhecimento. Nessas idas e voltas pelas estradas de asfalto, de chão batido, pelos caminhos de rios, lagos e igarapés, somos guiados pelo Projeto Político Pedagógico e nestes 10 anos de caminhada estamos sempre reaprendendo com a educação popular, vislumbramos horizontes políticos pautados desde os projetos que levem a superação da fome e da miséria, como também na busca de inclusão da Educação Popular como Política Publica.

Tem sido um tempo de muitos desafios, e que cada vez mais nos coloca frente às concepções racionalistas da velha concepção educativa bancaria, concebida pelo sistema de dominação capitalista. Por isso nossa luta é pautada no estigma da paixão, somos intimamente banhados e banhadas por essa força revolucionaria. E nesta lógica a Rede de Educação Cidadã do Amazonas vem buscando também a superação dos seus próprios limites, gestando sonhos e utopias, buscando sempre uma sustentabilidade política e pedagógica pautada na reflexão.

            No conjunto de ações desenvolvidas nossa gestão tem sido pautada sobre a organicidade politica da RECIDAM junto ao coletivo estadual, equipe contratada, grupos e movimentos acompanhados, conforme o próprio planejamento. Assim o fazer pedagógico da gestão compartilhada se dá desde os momentos de planejamento e realização das atividades pedagógicas, Intermunicipais, Rodas de conversas. Buscando sempre contar com o apoio dos grupos de base e dos parceiros.

LIMITES E DESAFIOS:

O período de julho a novembro 2013 foi permeado de muitos desafios, conflitos e desanimo; situações que se deram a partir do contingenciamento do convênio, visto que alguns acordos financeiros para custeio de atividades pedagógicas e Intermunicipais acordadas com alguns parceiros foram atropelados pela suspenção do recurso, ficando a RECIDAM em debito. Por outro lado, também nos fez refletir até onde vivenciamos a gestão compartilhada, promovendo na equipe contratada e educadores/as voluntários/as o fortalecimento da missão da Educação Popular e o papel de cada militante na sustentabilidade dessa missão com fins de não deixar o trabalho com a base enfraquecer, nos mantermos firmes na articulação, cumprir o que pautamos em nosso planejamento estratégico para 2013 e de estreitar dialogo com a entidade ancora estadual, nacional.

Mas para, além disso, se faz necessário destacar que os limites e desafios da Gestão compartilhada não se dá nas experiências advindas dos grupos populares e dos movimentos, estes já promovem a cultura do compartilhamento desde o café partilhado à gestão de suas ações. Os maiores desafios advêm das dinâmicas financeiras dos modelos burocratas que não concebem exigências postas pelos convênios com os tempos reais da vida do povo.

AVANÇOS E RESULTADOS ESPERADOS

Consideramos que mesmo com os limites existentes pelo formato de convenio, pelas dificuldades existentes, próprias do período que vivenciamos, ser avanços a manutenção do encontro mensal com o coletivo estadual, o encontro semanal da equipe contratada fazendo a avançar a analise, o debate, as reflexões e encaminhamentos, com distribuição de responsabilidades. Isto representa a manifestação e o compromisso pedagógico da gestão compartilhada

Sabemos que a educação popular é uma troca de experiências e confiança na outra pessoa, em uma busca constante e foi acreditando nisso e na missão que muitos educadores/as tiveram que arca com muitas despesas para o trabalho continuar, o coletivo ficou esmorecido, mas não deixamos o trabalho parar, com cooperação estamos conseguindo manter os trabalhos minimamente. Realizamos atividades todos os meses, mas não conseguimos manter a meta prevista de realização das atividades pedagógicas e dos intermunicipais planejados, entretanto graças às parcerias estabelecidas ao longo dos anos, realizamos duas audiências especiais em comemoração aos 10 anos da Recid, na assembleia legislativa e na câmara municipal de Manaus. Garantimos o debate no coletivo estadual e a participação de educadores/as em espaços estratégicos e que achamos importante para avanço político do trabalho, como a CONAE onde pautamos o debate sobre a educação popular como política pública.

Desta forma averiguamos que a RECID-AM, legitima a sua missão transformadora de inclusão social, através dos trabalhos de base nas áreas urbanas, rurais e ribeirinhas, possibilitando a reconstrução do tecido social por meio do protagonismo dos sujeitos/as envolvidos na própria ação.

Ternos abraços,
Rede de Educação Cidadã do Estado do Amazonas.


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