“Não estamos perdidos. Pelo contrario,
venceremos se não tivermos desaprendido a aprender”
Rosa Luxemburgo.
Saudação
revolucionaria aos irmãos e irmãs que lutam pela criação de um Ethos
Brasileiro/Amazônico pautado pela soberania da população, através da construção
do Projeto popular.
Em
um antigo artigo da Revista Vida Pastoral, editado em julho de 1994, O que é
preciso para ser cidadão? Pe. Juvenal Arduine problematiza a construção
histórica da cidadania com a seguinte reflexão: Para ser cidadão não basta ter
certidão de nascimento, não basta votar, pagar tributos, obedecer a leis.
Cidadania é compromisso histórico. É participação nas decisões e ações da
sociedade. Cidadania é pluridimensional. É, ao mesmo tempo, participação
politica, econômica, social, psíquica, cultural e ética. Assim, pautados por
esta reflexão queremos nesta 2ª carta pedagógica de inicio partilhar um pouco
do contexto politico, econômico e social do Estado do Amazonas.
Observando
a construção da identidade Amazonense temos a plena consciência de que toda vez
que a participação popular esteve organizada as oligarquias reagiram impedindo
seu avanço. Sabemos que no decorrer de décadas que se criou uma distancia entre
o povo amazonense e as elites que estão no poder. Os governos do Estado e dos
Municípios administram as Politicas Sociais como se fossem “coisas” de sua casa
particular, pior ainda é quando tal casa particular é empenhorada em nome de
seus moradores sem que haja consulta. O que reflete uma cultura de gestão não
compartilhada e de mandonismo.
Nosso
estado apresenta graves problemas sociais, nas mais diversas áreas da vida e do
cotidiano da população. Entre eles se destaca a corrupção politica, a
privatização dos serviços públicos, a violação dos direitos dos trabalhadores e
trabalhadoras do Polo Industrial e das frentes de trabalhos das grandes
construtoras de obras, o trafico de mulheres, crianças, adolescentes e jovens,
a crescente violação dos direitos humanos do seguimento LGBT. Também é uma
região com um alto índice de violação dos direitos humanos das mulheres,
situação que se acelera a cada dia com crianças exploradas sexualmente,
violência domestica e familiar, trafico de meninas e mulheres, desemprego,
racismo, preconceito ético, ameaças e homicídios. E assim as mulheres do
Amazonas vão sobrevivendo quando não morrem pelas mãos dos seus maridos ou
companheiros.
Somos
uma cultura politica de subserviência, demonstrada de maneira mais clara no
clientelismo empreendido por grupos políticos com o propósito de manutenção do
poder político, pautada, sobretudo numa dependência partidária e politica dos
prefeitos que apresentam fragilidade, ineficiência e má administração dos bens
públicos. Imperando nesse arcabouço a corrupção dos poderes Executivos e
Legislativos Municipais. Que segundo o TCE apresentam prestação de contas
retalhadas, o que dão margem a desvio de recurso publico, particularmente com
verbas voltadas para a área da educação, como é a verba da merenda escolar.
As
violações dos direitos são maquiadas pela grande propaganda sobre o crescimento
econômico do estado, no entanto por aqui se tem uma das cestas básicas com o
valor mais alto do País. O crescimento econômico advindo do Polo Industrial de
Manaus não está acompanhado de ganhos reais para os trabalhadores e
trabalhadoras, seja no que se refere ao ganho salarial, seja no atendimento de
serviços públicos básicos. O poder aquisitivo da classe trabalhadora
aparentemente está abaixo daquilo que é suficiente para atender as demandas
básicas de vida digna, o poder público não proporciona um serviço público de
qualidade que atenda as demandas sociais da população.
Assim
é que diante de uma orfandade social, politica e econômica do povo amazonense,
abandonado pelos políticos, espoliado pela economia, escorraçado pelos
detentores do poder, minados pela angustia, que a RECID AM se desafia a
realizar o proposito e, sobretudo a missão da gestão compartilhada como
processo de alternância e ruptura as matizes da cultura do mandonismo instalada
na consciência e principalmente no inconsciente, que influencia mentalidades,
julgamentos e valores. Por isto o cuidado que temos no gerir o dinheiro publico
de maneira compartilhada e transparente numa condição de aprendizes, mas
reaprendendo sempre a cada atividade realizada.
O NOSSO FAZER NA GESTÃO COMPARTILHADA
(COMO ACONTECE A GESTÃO COMPARTILHADA NO ESTADO)
Estamos
a caminhar pelas comunidades urbanas e ribeirinhas, e rumamos nosso jeito de
ser a luz da realidade das populações, grupos e movimentos, do aprofundamento
teórico e da aplicação do conhecimento. Nessas idas e voltas pelas estradas de
asfalto, de chão batido, pelos caminhos de rios, lagos e igarapés, somos
guiados pelo Projeto Político Pedagógico e nestes 10 anos de caminhada estamos
sempre reaprendendo com a educação popular, vislumbramos horizontes políticos
pautados desde os projetos que levem a superação da fome e da miséria, como
também na busca de inclusão da Educação Popular como Política Publica.
Tem
sido um tempo de muitos desafios, e que cada vez mais nos coloca frente às
concepções racionalistas da velha concepção educativa bancaria, concebida pelo
sistema de dominação capitalista. Por isso nossa luta é pautada no estigma da
paixão, somos intimamente banhados e banhadas por essa força revolucionaria. E
nesta lógica a Rede de Educação Cidadã do Amazonas vem buscando também a
superação dos seus próprios limites, gestando sonhos e utopias, buscando sempre
uma sustentabilidade política e pedagógica pautada na reflexão.
No conjunto de ações desenvolvidas nossa
gestão tem sido pautada sobre a organicidade politica da RECIDAM junto ao
coletivo estadual, equipe contratada, grupos e movimentos acompanhados, conforme
o próprio planejamento. Assim o fazer pedagógico da gestão compartilhada se dá
desde os momentos de planejamento e realização das atividades pedagógicas, Intermunicipais,
Rodas de conversas. Buscando sempre contar com o apoio dos grupos de base e dos
parceiros.
LIMITES E DESAFIOS:
O período de julho a novembro 2013 foi permeado de muitos
desafios, conflitos e desanimo; situações que se deram a partir do
contingenciamento do convênio, visto que alguns acordos financeiros para
custeio de atividades pedagógicas e Intermunicipais acordadas com alguns
parceiros foram atropelados pela suspenção do recurso, ficando a RECIDAM em
debito. Por outro lado, também nos fez refletir até onde vivenciamos a gestão
compartilhada, promovendo na equipe contratada e educadores/as voluntários/as o
fortalecimento da missão da Educação Popular e o papel de cada militante na
sustentabilidade dessa missão com fins de não deixar o trabalho com a base
enfraquecer, nos mantermos firmes na articulação, cumprir o que pautamos em
nosso planejamento estratégico para 2013 e de estreitar dialogo com a entidade
ancora estadual, nacional.
Mas para, além disso, se faz necessário
destacar que os limites e desafios da Gestão compartilhada não se dá nas
experiências advindas dos grupos populares e dos movimentos, estes já promovem
a cultura do compartilhamento desde o café partilhado à gestão de suas ações.
Os maiores desafios advêm das dinâmicas financeiras dos modelos burocratas que
não concebem exigências postas pelos convênios com os tempos reais da vida do
povo.
AVANÇOS E RESULTADOS ESPERADOS
Consideramos que mesmo com
os limites existentes pelo formato de convenio, pelas dificuldades existentes,
próprias do período que vivenciamos, ser avanços a manutenção do encontro
mensal com o coletivo estadual, o encontro semanal da equipe contratada fazendo
a avançar a analise, o debate, as reflexões e encaminhamentos, com distribuição
de responsabilidades. Isto representa a manifestação e o compromisso pedagógico
da gestão compartilhada
Sabemos
que a educação popular é uma troca de experiências e confiança na outra pessoa,
em uma busca constante e foi acreditando nisso e na missão que muitos
educadores/as tiveram que arca com muitas despesas para o trabalho continuar, o
coletivo ficou esmorecido, mas não deixamos o trabalho parar, com cooperação
estamos conseguindo manter os trabalhos minimamente. Realizamos atividades
todos os meses, mas não conseguimos manter a meta prevista de realização das
atividades pedagógicas e dos intermunicipais planejados, entretanto graças às
parcerias estabelecidas ao longo dos anos, realizamos duas audiências especiais
em comemoração aos 10 anos da Recid, na assembleia legislativa e na câmara
municipal de Manaus. Garantimos o debate no coletivo estadual e a participação
de educadores/as em espaços estratégicos e que achamos importante para avanço
político do trabalho, como a CONAE onde pautamos o debate sobre a educação
popular como política pública.
Desta
forma averiguamos que a RECID-AM, legitima a sua missão transformadora de
inclusão social, através dos trabalhos de base nas áreas urbanas, rurais e
ribeirinhas, possibilitando a reconstrução do tecido social por meio do
protagonismo dos sujeitos/as envolvidos na própria ação.
Rede
de Educação Cidadã do Estado do Amazonas.
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