segunda-feira, 15 de julho de 2013

Momentos vivenciados na Jornada Pedagógica da RECID/AM

A Rede de Educação Cidadã neste ano de 2013 celebra 10 anos de caminhada bebendo da fonte da educação popular, a RECID do Amazonas celebrou este momento no mês de junho com a realização da Jornada Pedagógica, com tema: Plano Nacional de Educação Popular. Os momentos que vivenciamos na jornada foram momentos de reflexão sobre a educação popular a partir da realidade do estado. Mas no primeiro dia houve homenagens na Assembleia Legislativa do estado pela passagem dos 10 anos de caminhada da Rede de Educação Cidadã, lembramos-nos dos educadores e educadoras que começaram tecer este lindo sonho, sonhado coletivamente. Não esquecemos nem mesmo dos que já partiram para outro plano, neste momento lembramos com carinho do Wilson o qual foi representado pela família, que disse da alegria de estar recebendo aquela homenagem e o quanto o Wilson se dedicava a causa dos pequenos.

Os homenageados/as falaram da alegria que é/foi fazer parte deste caminhar da rede de educação cidadã, as “pescarias” que foram feitas, “peixes” bons que contribuíram para este caminhar onde somos hoje reconhecidos/as nesta casa, Assembleia Legislativa. Recebemos das mãos do Deputado Estadual José Ricardo (PT) duas placa de homenagem, uma para articulação da RECID local e outra para nacional.
















No inicio da noite deste dia trouxemos para roda as experiência vividas por cada um e cada uma que estava presente neste dia, este momento foi facilitado pelo educador Ribamar que fazendo uma analogia aos 10 anos da rede, “que ainda é uma criança e tem muito que crescer” nos pós a escrever o que uma criança de 10 anos trás pra nós, neste seu período de vida, na partilha houve falas: partilha, conhecimento, aprender, descobertas, teimosia... Em seguida de uma maneira bem mística a educadora Antonia nos convida a falar quem somos nós que caminhamos juntos. E assim terminamos a noite com essa rica experiência de vida de cada um e cada uma.




















No segundo dia após a acolhida do educador Ribamar e da educadora Antonia com o poema Ternura e Ousadia e uma dança circular onde cada um e cada uma cumprimentou o Deus que habita em cada um de nós.



















Passamos a vivenciar e partilhar as experiências de educação popular no estado, como o NEPE – Núcleo de Estudos e Pesquisas de Educação Popular da Universidade Federal do Amazonas, do Fórum Estadual de Educação de Jovens e Adultos, a experiência no campo com a Escola Familiar Rural, a experiência das Escolas Sindicais, assim como a educadora Lucinete que atua na Universidade do Estado de Amazonas, mas que já atuou na Associação de Educação Católica e do MEB que não foge a linha da educação popular mesmo dentro das estruturas formais. Todas as experiências afirmaram o quanto à educação popular é fundamental para a transformação das pessoas e da realidade em que vivem.




A educadora Ana Grijó do NEPE disse que A Educação Popular em Paulo Freire tem como foco os oprimidos. Que é aquele que estar fora das posses dos bens materiais produzidos. Onde surge uma necessidade de se construir uma educação que formasse um sujeito excluído para uma formação diferente da educação tradicional, que tem um viés escolástico, é autoritária, e é branca. A Educação Popular tem como propósito: transformação social; humanizadora;  Justiça, Igualdade e a Felicidade;
A professora encerra sua fala dizendo: “A educação popular surge como alternativa para a gente se livrar do chicote.”

Através de uma apresentação PowerPoint a professora Lucinete inicia pelo resgate da poesia da mística do dia anterior enfatizando que a partir dos relatos na mística os diversos laços que nos entrelaçam na construção da história dos excluídos no Brasil. E continua sua apresentação indagando: Porque Educação Popular? A professora acrescenta que a Universidade do Estado do Amazonas – UEA não há núcleo de educação popular. Mas, sua trajetória advém de experiências de grupos que trabalhavam com meninos de rua e por acreditarmos nesse tipo de educação. Ela enfatizou suas experiências, como professora e os desafios vividos pelos mesmos e coloca as semelhanças entre a educação no meio rural e urbano.

Nonata Correia trás a experiência da formação sindical partindo de um resgate histórico das experiências de formação sindica da Central única dos Trabalhadores – CUT, onde iniciou com o processo de formação dessa central sindical e a necessidade de formação das lideranças sindicais. Nesse sentido trouxe a Articulação Nacional dos Movimentos Sociais e Populares. Após apresentação a educadora fala como era o trabalho da formação sindical. O que é a Educação Popular para a Classe Trabalhadora Organizada. Onde o trabalho de formação tinha como foco trabalhar a formação dos trabalhadores. Houve a criação de um grupo que construiu uma metodologia para esse público, que uma das primeiras bandeiras foi à reformulação do currículo escolar. A educação deve ter 03 níveis: para os educadores; para as lideranças do sindicato (dirigentes); para a base.

O professor Nilton do Fórum EJA. Iniciou fazendo um resgate do encontro regional do Fórum EJA que em 2013 o tema principal foi A Diversidade Amazônica destacando que a Educação de Jovens e Adultos e a Educação Popular que são imprescindíveis, falar de Paulo Freire que dizia que a educação não muda o mundo muda as pessoas que mudam o mundo. Levantou que um dos grandes desafios é que continuamos a trabalhar a mesma forma de ensinar com adultos do campo e da cidade. Deu exemplos de situações com a Educação de Jovens e Adultos, onde na escola a metodologia é igual a da educação formal.

A professora Graça da Escola Familiar Rural, iniciou fazendo uma trajetória de sua experiência de vida dentro da educação popular. As Casas Familiares Rurais – Pedagogia em alternância ocorre no Baixo Amazonas (BVR e Parintins), mas que surge há 70 anos na França e em outros lugares do mundo. Com uma apresentação em Apresentação PowerPoint buscou relacionar a instituição IFAM como uma grande casa que se encaixa na proposta da educação no/do campo. E que no futuro criar um curso de Pós-graduação em Educação do Campo. Pilares da CEFA’s: desenvolvimento local; formação integral da pessoa. Como se dá a metodologia: temas Geradores. Princípios filosóficos e pedagógicos: Formação para compreensão e transformação social; Formação inter e transdisciplinar; realidade como objeto de estudo e fonte de conhecimento; Gestão democrática no desenvolvimento do processo pedagógico; Tempos e espaços formativos. Ferramentas metodológicas: Pesquisa participativa; Plano de estudo; Colocação em comum; Ficha pedagógica; Visita as famílias.
A professora Graça Passos enfatizou que a estratégia diante das distancias das famílias ribeirinhas é através do associativismo e da alternância onde os jovens são formados nos municípios onde há as escolas. A identidade de cada grupo se dá como cada um reconhece.





Após as experiências levantadas pelas instituições, abrimos para o debate outras partilhas dos participantes do evento.
Começamos com o professor Jorge apresentou sua entidade o Instituto Navegando e Lendo que trabalha um projeto de ‘fazer leitores’. Partem do pressuposto que as crianças têm um processo de criticidade (persuasão) muito grande e que através da leitura de livros podem aumentar esse senso de criticidade. Também há os jovens mediadores de leitura e o projeto bibliotecas na sala de aula.
Nonata traz algumas experiências de base e sua relação com a sustentabilidade local. Preocupação: a sistematização dessas experiências de educação popular e o nivelamento de saberes: encontro para base, encontro para educadores e encontro para lideranças.
Professora Ana Grijó reafirma mais ainda as instituições de ensino superior não conceberam a educação popular na sua estrutura o que ocorre é que a educação popular são iniciativas de grupos dentro da universidade fazendo com que a educação popular vá para os espaços formais de educação.
Ribamar relata que diante da discussão da Educação Popular como Política Publica traz o resgate que os povos sempre foram os construtores das políticas vigentes. A tarefa nossa é aprofundar o debate da educação popular como política pública diante do modelo das instituições de ensino vigente.
Florismar traz as experiências das MUSAS, onde mulheres que trabalham em roda com modelagem como forma superar problemas como a baixa autoestima. Outra ação das MUSAS é a valorização das benzedeiras como cultura tradicional diante do avanço das tecnologias.
Gláucio reforça a articulação dos grupos para participarem das conferencias municipais, onde ainda estiver acontecendo, e na estadual de Educação – CONAE.

Diante de varias falas encaminhamos os seguintes pontos a partir destas partilhas da manhã deste dia: articular os grupos para participarmos das conferencias municipais e na estadual de Educação – CONAE para afirmar a Educação Popular como política pública; articular encontros para preparar um seminário que debata as experiências de educação popular no Amazonas com o intuito de formular uma ementa de uma Pós-graduação em Educação Popular partindo das experiências já existentes e da necessidade dos diversos movimentos sociais e em parceria coma Universidade do Estado do Amazonas - UEA. Obs.: O nivelamento da formação deverá ser conforme o nível de público (base, lideranças e educadores).




































Na parte da tarde realizamos a partilha de experiências nos grupos específicos que a rede articula, como os movimentos de mulheres, observatório da juventude e a educação popular nas escolas publicas.



Janeide – educadora voluntaria e professora da rede publica trouxe sua pratica de educação popular na escola publica, apontando desafios, mas também conquistas. Expõem sobre sua chegada pela primeira vez na escola formal, explicitando a maneira como foi recebida pela direção da escola. O contexto colocado pela educadora foi com propósito de exemplificar que não existe o mínimo de interesse dos profissionais em humanizar a educação no espaço formal da escola. Expôs também sobre a realidade dos alunos e alunas, o que lhe possibilitou promover suas experiências e acúmulos na sala de aula;
Na abordagem a educadora contextualiza que a educação popular é uma filosofia que vai para além da escola formal; lembra também que os acúmulos da sua aprendizagem vêm da sua militância no CEBI e da sua participação na Rede de Educação Cidadã. 


Os jovens do Observatório da Juventude, Jonas e Jonatas (educadores voluntários da rede),  falaram do quanto à educação popular contribui com o fazer pedagógico que desenvolvem junto as juventudes, trazendo algumas frases significativas de Paulo Freire. Relatam sobre os desafios e os espaços que precisam ser conquistados. Foca também sobre as questões teóricas e as distancias que existem entre as praticas. Falam do trabalho junto a pastoral da juventude que tem seu método pautado sobre a teologia da libertação, que tem algumas praticas que envolve a educação popular.



O movimento de mulheres, Fórum Permanente de Mulheres de Manaus  e Musas,  falam das suas experiências junto às mulheres fazendo um processo de formação e transformação da sua realidade, colocando-se como protagonista desta história. Dinâmica sobre o ser, sua alma, sua realidade, motivação, sua organização. Reflexão sobre o direito da mulher que perpassa por todos os outros direitos. Levantamento do índice de violência praticado contra a mulher. Concluem falando do foco que tem sido a afirmação dos direitos com estudo de temas, organização das mulheres na defesa, manutenção e inclusão em políticas públicas.

Após as experiências levantadas abrimos para contribuição da plenária que saíram as seguintes colaborações com apoio e inquietações sobre nosso trabalho.

Vasconcelos – militante do Comitê popular da Copa, nos instiga a refletir sobre o Estado que temos e o Estado que queremos. O estado burguês que temos não nos permite avançar para uma mudança por justiça no Brasil. faz se necessário não só conquistar e garantir políticas públicas, mas perceber que os governos de fato não tem interesse de implementarem um projeto que reconheça os sujeitos como detentores do estado. Na atualidade os movimentos sociais, em sua maioria, estão atrelados aos governos através de convênios, e com isto se encontram desmobilizados, pois não se contrapõe a política que ai está.

Janeide - É preciso ocupar para transformar, se for pra ir pros espaços públicos pra aceitar as coisas como estão, será contraditório temos que ir para os espaços públicos para transformar. Trabalha a educação popular nas escolas te trás comprometimento e responsabilidade e isso dar trabalho e preciso ter comprometimento com a causa.

Jonas – a proposta política para os jovens no Brasil hoje é de “bestializar” a juventude. Com essa grande onda neopentecostal. Nos muitas vezes deixamos nosso ego falar mais alto e não conseguimos mais botar o pé no chão, estamos já em outro “nível”. E esquecemos nossas bases e nossa história. Hoje não é a sociedade civil que controla o poder publico é o poder publico que controla a sociedade civil. Temos que lutar por uma sociedade igualitária,  ou se constrói a novidade ou vamos viver andando atrás do nosso rabo.

Flor - Quando participamos do debate da CONAE percebemos que a escola não esta nem ai pra comunidade onde atua. Não chama a comunidade pra dialogar sobre a educação e muitas vezes não reconhece as lideranças locais. Muitas escolas não são abertas pra comunidades. Vemos que voltar a “roer” por dentro pra tomar o poder, trazendo essa questão do poder popular.

 Encaminhamos deste momento da tarde, que o debate sobre Estado e democracia será aprofundado em nosso intermunicipal do mês de agosto com o tema: A questão do Estado Moderno.


















Terminamos este encontro sabendo que os debates são bons para seguirmos reafirmando e refletindo em torno da política nacional de educação e na certeza de que: o sonho não acabou, só se constrói algo novo ouvindo, debatendo, questionando. É a partir de um exemplo que se constrói outro. 

“EDUCAÇÃO POPULAR! QUE SE CUMPRA, QUE SE CUMPRA!!!”